A Petrobras usou o quase US$ 1 bilhão captado lá fora,em papéis com vencimento em 2035,para recomprar títulos emitidos anteriormente — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
GERADO EM: 20/09/2024 - 04:01
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O volume de recursos captados por meio da emissão de títulos de dívida por empresas,incluindo instituições financeiras,alcançou US$ 13,12 bilhões de janeiro até 18 de setembro,superando os US$ 11,92 bilhões registrados em todo o ano passado. Quando se consideram também as emissões feitas pelo Tesouro Nacional,o total chega a US$ 19,5 bilhões este ano,também acima dos US$ 16,1 bilhões de 2023,segundo dados do Bond Radar,serviço de informações sobre o mercado de capitais.
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As captações são feitas principalmente por empresas de grande porte que tenham uma dívida relevante,afirmam especialistas. O movimento quer aproveitar a retomada do apetite dos investidores por títulos de dívida de países emergentes,o que será estimulado pela queda na taxa básica de juros nos Estados Unidos,iniciada na quarta-feira,quando o Federal Reserve (Fed,o banco central americano) fez um corte de 0,5 ponto percentual,para o intervalo entre 4,75% e 5%.
— De 2022 para cá,houve uma combinação de incerteza macroeconômica mundial,do ponto de vista de inflação e taxa de juros. Isso gerou volatilidade grande em relação a níveis de taxas de juros — diz Guilherme Maranhão,presidente do Fórum de Estruturação de Mercados de Capitais da Anbima,associação do setor.
Nos dois últimos anos,a dinâmica da política monetária americana ditou o ritmo de captações externas,impactando negativamente as emissões no exterior. Para as empresas brasileiras,continua Maranhão,pesou também o cenário interno,de eleições presidenciais à Selic,ainda que o mercado local tenha oferecido opções de captação:
— A partir do ano passado e mais fortemente agora,com as questões macroeconômicas e políticas dissipadas,vai ter uma melhora. Fundos que ficaram muito tempo sem alocar em países emergentes e no Brasil começam a ter necessidade de voltar.
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Neste segundo semestre,dizem especialistas,a tendência é que as empresas que puderem optem por fazer captações externas antes das eleições presidenciais nos EUA.
Miguel Diaz e Matheus Licarião,analistas da área de mercado de capitais do Santander,lembram que “o mercado lá fora é de janelas”:
— No momento há volatilidade baixa,e a confiança dos investidores acabou entrando de novo para mercados emergentes — diz Licarião,que faz um alerta. — A janela pode se fechar por conta de ruído de eleições americanas,porque a volatilidade deve aumentar.
Diaz cita ainda questões de calendário:
— Eleições,Ação de Graças,em dezembro se desligam os motores.
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Para Lucas Queiroz,estrategista de renda fixa do Itaú BBA,os juros menores nos EUA vão impulsionar a corrida por mais emissões lá fora. Ele ressalta,no entanto,que as captações externas são feitas por “produtoras de commodities com negócios globais”:
— As receitas dolarizadas facilitam a aceitação dos papéis no mercado internacional.
Maranhão,da Anbima,acrescenta que as empresas que acessam esse mercado têm endividamento relevante. Não à toa,muitas delas estão emitindo títulos para financiar o pagamento de dívidas ou financiar operações com debêntures.
A Vale,por exemplo,levantou quase US$ 1 bilhão no fim de junho em uma emissão de títulos de dívida com prazo de 30 anos. E explicou ter usado os recursos para pagar bonds emitidos anteriormente com vencimento em 2026.
Esse movimento é semelhante ao da Petrobras,que fez uma emissão também de quase US$ 1 bilhão com vencimento em 2035 e recomprou títulos mais antigos. A XP também informou ter usado os recursos de uma emissão externa,no valor de US$ 500 milhões e com vencimento em 2029,para recomprar papéis com vencimento mais próximo.
Já a Eletrobras informou ter usado os recursos captados lá fora para refinanciar suas dívidas. Também procuradas,Suzano e Movida não responderam qual o objetivo de suas captações.
Queiroz,do Itaú BBA,afirma que a disponibilidade dos títulos no exterior também é vista como uma janela de oportunidade de longo prazo,pois cria respaldo para futuras emissões:
— Ter novos credores abre um novo mercado e reforça participação neste mercado internacional.
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Além disso,há no mercado internacional um número maior de eventuais interessados,aponta Frederico Nobre,líder de análise da Warren Investimentos:
— Há um acesso a outros bolsos. O mercado de capitais lá fora é muito mais robusto e maior do que o daqui.
Com o cenário favorável lá fora,o governo prepara uma nova emissão de dívida externa neste ano,em valores que ainda estão sendo discutidos. A avaliação do Ministério da Fazenda é que o mercado está mais “calmo”,com menor volatilidade.
A emissão será de papéis “normais”,e não de títulos verdes (os chamados green bonds) — que este ano captaram US$ 2 bilhões,a uma taxa de 6,3% ao ano. Esses papéis têm juros mais baixos,mas exigem uma maior governança do governo em relação ao destino dos recursos.
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O Tesouro captou ainda US$ 4,5 bilhões com a emissão de dois títulos soberanos,no maior movimento nesse sentido desde 2005.
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