Cidade de Berlim,na Alemanha — Foto: Arquivo

RESUMO

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GERADO EM: 25/10/2024 - 03:30

"Berlim além das telas: Uma jornalista em busca da realidade e da gastronomia da cidade"

Em Berlim,a jornalista foge do vício das redes sociais para vivenciar a realidade da cidade marcada pela guerra e recessão. Explorando a gastronomia local,ela experimenta pratos diversificados,desde iguarias refinadas a opções mais simples. O contraste entre a história conflituosa da cidade e a riqueza da culinária a faz refletir sobre a importância de se desconectar e apreciar a vida real.

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Olhar para o próprio umbigo é um perigo que os algoritmos das redes sociais só agravam. O Instagram conhece melhor até que meu marido minhas vontades e aflições,comidas e vinhos pelos quais anseio,frases que me tocam fundo e os assuntos que prefiro (engenhocas agrícolas,viticultura e política,a quem interessar possa). A cada dia,engulo minha dose de fotos e vídeos perfeitamente calibrada ao que gosto. Admito impotência diante do vício e por isso vou para o mundo beber fartas doses de vida real como antídoto. Experimento até o que não me agrada,para não emburrecer ou perder a perspectiva.

Volto de viagem a Berlim,onde tomei garoa e vento na cara,tive crises de enxaqueca e senti-me oprimida pelas cicatrizes tão visíveis da Segunda Guerra,dos furos de bala nos muros a igrejas,sinagogas e faculdades remendadas no pós-guerra em estilos contrastantes. A cidade parece-me tristonha desde que mergulhou na recessão que vem matando restaurantes como moscas.

Hospedei-me em Mitte,no lado Leste,para sentir a História. Desci caviar às colheradas com branco da Borgonha em uma antiga escola para meninas judias pobres,restaurada por um galerista depois de décadas abandonada. Jantei um esplêndido bife com fritas e salada de alface crocante de tão fresca em um dos mais calorosos e badalados lugares da cidade,o Grill Royal. E caí em dois bistrôs onde nem os molhinhos agridoces salvaram as batatas insossas e as milanesas molengas.

As ruas estavam cheias de policiais,barricadas e carrões pretos — o presidente Zelensky chegara no mesmo dia para pedir mais armas e munição ao chanceler. Eu circulava de patinete elétrico para desviar dos bloqueios,provando pelo caminho salsichas,cervejas e wiener schnitzels (milanesas à austríaca). Até que achei o bistrô Einstein. Fisgou-me com fumegante consommé de boi com tripinhas de crepe por cima,o rei dos wiener schnitzels e o melhor cheesecake de abricó da vida. Nessa Berlim que respira guerra,a comida boa aqueceu corpo e alma.