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'A cooperação precisa ser fortalecida para coordenar políticas comerciais e ambientais', afirma ministro sul-coreano

2024-10-28 HaiPress

Cheong In-kyo,ministro do Comércio,Indústria e Tecnologia da Coreia do Sul — Foto: Divulgação: Ministério do Comércio,Indústria e Tecnologia da Coreia do Sul

Em uma das mais importantes reuniões ministeriais antes da cúpula do G20,no mês que vem no Rio de Janeiro,ministros do Comércio do bloco aprovaram um documento considerado histórico estabelecendo princípios para estabelecer uma relação positiva entre o comércio internacional e o desenvolvimento sustentável,uma das bandeiras da presidência brasileira do grupo das 20 maiores economias do planeta.

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Em entrevista exclusiva ao GLOBO,o ministro do Comércio da Coreia do Sul,Cheong In-kyo,que participou do encontro,destacou que esse equilíbrio entre clima e comércio é um dos maiores desafios para a economia mundial neste momento,e que precisa ser enfrentado de maneira conjunta pelos governos. O ministro ainda demonstrou otimismo com as negociações sobre o acordo de livre comércio entre a Coreia do Sul e o Mercosul,cujas conversas estão paralisadas desde 2021.

Antes de mais nada,seja bem-vindo ao Brasil,um país que tem uma intensa relação comercial com a Coreia do Sul. O senhor vê espaço para avanços?

É um prazer para mim visitar este país maravilhoso às margens da reunião do G20. E como você mencionou,o Brasil é o maior parceiro econômico da Coreia na América do Sul. Muitas empresas coreanas em indústrias como a automobilística,metalúrgica e de eletrodomésticos operam no Brasil,e nosso volume de comércio bilateral supera os US$ 10 bilhões por ano. O Brasil também é o principal destino de investimentos da Coreia na América Latina,com US$ 12 bilhões nos primeiros dois trimestres de 2024.

Contudo,diante do tamanho de nossas economias,que estão entre as dez maiores do mundo,acredito que haja espaço para expandirmos nossa coperação em volume e escopo. Para isso,precisamos descobrir novas áreas de contato,e remover possíveis obstáculos,o que deve ser amparado por trocas em nível privado.

Pelo campo institucional,precisamos avançar no Acordo de Livre Comércio (ALC) Coreia do Sul-Mercosul. A Coreia está se esforçando ao máximo para diversificar a base industrial global,e uma vez que garantirmos um ambiente estável de investimentos através da assinatura deste acordo,o Brasil verá um aumento significativo do investimento e das atividades de negócios de empresas coreanas.

Mas considerando que levaremos algum tempo até um avanço substancial do ALC,o Ministério do Comércio,Indústria e Energia da República da Coreia,e o Ministério do Desenvolvimento,Indústria,Comércio e Serviços do Brasil assinaram um Memorando de Promoção de Investimento e Comércio. Ele foi estabelecido para descobrir e impulsionar projetos de cooperação de benefício mútuo para empresas realizando negócios e investimentos no Brasil. Já participamos de atividades em hidrogênio limpo e infraestrutura de quaidade. Indo além,planejamos ampliar essa parceria ao expandir áreas de cooperação estatal e apoiar a cooperação em nível privado.

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O senhor mencionou o ALC Mercosul-Coreia do Sul,sobre o qual havia otimismo em suas primeiras etapas,mas que agora parece em compasso de espera. O que é necessário para retomar e avançar com as conversas?

Nós realizamos progresso considerável nas primeiras sete rodadas de negociações. Contudo,encontramos diferenças diante dos diferentes níveis de desenvolvimento econômico e estrutura industrial. O acordo está parado desde a 7ª rodada de negociações,em agosto de 2021,mas prosseguimos com discussões informais de alto nível em busca de progresso. Uma vez que as negociações sejam retomadas,encontraremos um terreno comum. A Coreia do Sul e os países do Mercosul têm estruturas econômicas complementares,e o acordo vai contribuir para expandir as exportações e investimentos dos dois lados,assim como simplificar nossas cadeias de suprimentos. Dessa forma,o governo da República da Coreia continuará a trabalhar com os membros do Mercosul para garantir a retomada das conversas.

Um tema central da presidência brasileira do G20 é o meio ambiente e as mudanças climáticas,e esse é um tema que impacta as conversas sobre um outro ALC,entre o Mercosul e a União Europeia (UE). Hoje,o clima é um fator primordial para a Coreia do Sul em negociações comerciais com outros países e blocos?

A República da Coreia também vê o meio ambiente e as mudanças climáticas como áreas centrais de cooperação para a maior parte de nossos acordos comerciais. Contudo,o foco específico e o nível das negociações são determinados por áreas comuns de interesse,assim como o nível de preocupação de nossos parceiros. Também tentamos manter uma flexibilidade em nosso processo de negociação para garantir que tais elementos não sejam entraves ao progresso do diálogo. Sobre o ALC Coreia-Mercosul,acredito que o meio ambiente e questões ligadas ao clima poderão ser discutidos ao longo das negociações caso necessário.

Em 2023, na Declaração de Nova Délhi,os líderes do G20 concordaram que “políticas comerciais e ambientais devem se apoiar mutuamente”,e “não podem representar obstáculos ao comércio”. Como equilibrar políticas para o clima com medidas voltadas a incrementar as relações comerciais entre as nações?

A crise climática é uma questão que lida com a própria sobrevivência da humanidade,e precisa de uma resposta global. Diante disso,precisamos garantir que o meio ambiente e medidas comerciais ligadas ao clima não tenham um impacto negativo sobre o comércio e não sejam submetidos a um tratamento diferenciado. Se um país,por exemplo,escolher aplicar medidas unilaterais [sobre o clima],ele poderia continuar e expandir essa prática,resultando em práticas protecionistas.

Medidas ligadas ao clima e o meio ambiente precisam ser aplicadas para apoiar o comércio entre os países e a sustentabilidade da cooperação comercial. É necessário encorajar o desenvolvimento do comércio e do investimento global,ao mesmo tempo em que minimizamos o impacto ambiental. Por exemplo,o Acordo de Energia Limpa do IPEF (Quadro Econômico Indo-Pacífico) quer estabelecer laços de cooperação entre países desenvolvidos e em desenvolvimento para expandir o comércio e o investimento dentro da transição energética na Ásia e Pacífico. O acordo ainda promove a cooperação voltada à crise climática ao mesmo tempo em que gera lucros.

A questão climática não pode ser resolvida através dos esforços de apenas um país,uma vez que é algo global por natureza. Diante disso,a cooperação multilateral precisa ser fortalecida para coordenar políticas comerciais e ambientais. Desta forma,acredito que atingiremos dois objetivos: lançar uma resposta conjunta à crise climática e promover o comércio global.

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Estamos a menos de duas semanas da eleição nos EUA,e há discussões sobre o aumento de impostos sobre bens e serviços importados. Os EUA e a República da Coreia têm um ALC,um acordo do qual o senhor participou da elaboração,mas a possibilidade de uma taxação adicional é algo que preocupa o seu governo?

Como a disputa entre os dois candidatos na eleição presidencial nos EUA está acirrada,é difícil para julgar o resultado. Dessa forma,políticas específicas dos EUA sobre quais taxas serão impostas,assim como seu impacto e nossa posição ainda precisam ser determinadas,por isso peço sua compreensão,uma vez que não posso emitir uma posição definitiva do governo da Coreia sobre o tema.

Mas é importante notar que o ALC Coreia-EUA é o resultado de negociações bem-sucedidas que beneficiam ambos países,como visto no aumento de 80% do comércio bilateral desde que ele entrou em vigor,em 2012. Em 2023,a Coreia do Sul foi responsável pelo maior volume de investimentos planejados nos EUA,mais do que qualquer outro país. Ao construir uma confiança sólida entre os dois lados,a Coreia do Sul e os EUA continuarão a expandir sua cooperação comercial,de investimentos e tecnológica de uma forma mutuamente benéfica. Neste processo,o ALC servirá como base fundamental para avançar nessa cooperação.

A China é o maior parceiro comercial da Coreia do Sul,e desde o governo do ex-presidente Donald Trumpvemos a intensificação de uma “guerra comercial” entre Pequim e Washington,agora focada na tentativa de limitação de exportações de itens de alta tecnologia para os chineses. Qual a posição da Coreia do Sul neste cenário,e como o país pode se beneficiar de manter bons laços com os dois lados?

Apesar das crescentes incertezas na economia global,a Coreia do Sul está fazendo esforços para promover o crescimento estável do comércio e investimento dentro e fora do país através da cooperação bilateral e multilateral com os EUA e a China. Especificamente,praticamos um comércio próximo e uma cooperação industrial ao abordar,de forma ampla,as políticas dos EUA que buscam atrair indústrias avançadas e estabelecer uma rede de suprimentos estável que inclua automóveis e veículos elétricos. Também trabalhamos ao lado dos EUA no campo da segurança econômica,e conseguimos uma isenção para as nossas empresas relativas aos controles de importação sobre itens produzidos por unidades coreanas na China.

Por outro lado,também buscamos uma cooperação ampla com a China,em seu níveis mais elevados,assim como entre os governos central e locais. Queremos estabelecer um ambiente de negócios previsível e redes de suprimentos estáveis,assim como expandir nossos negócios bilaterais para promover laços econômicos cooperativos.

Neste cenário,as empresas coreanas estão realizando esforços para desenvolver modelos comerciais que levem em consideração o mercado global,assim como as relações EUA-China,ao mesmo tempo em que cumprimos as politicas comerciais estabelecidas pelos dois países. Em particular,eles reconhecem a importância da competitividade tecnológica,e estão fazendo grandes investimentos em novos modelos de negócios.

Em maio: Líderes de Coreia do Sul,China e Japão reúnem-se pela primeira vez em cinco anos

Estamos diante de uma crescente onda protecionista,incluindo em países do G20: em 2022,acordo com o Fundo Monetário Internacional,tínhamos cerca de 3 mil restrições em vigor. Essa é uma tendência de long prazo,ou é possível uma transição para um ambiente com menos regras e mais inclusivo. E até que ponto esse caminho passa por mudanças na Organização Mundial do Comércio (OMC)?

Em meio a um ambiente econômico global marcado por incertezas,estamos vendo essas tendências protecionistas e fragmentadas. Eu acredito que a comunidade internacional continuará a fazer esforços em direção a um ambiente comercial mais inclusivo. Como destacado no Relatório Mundial sobre o Comércio de 2024 da OMC,o comércio mundial contribuiu para promover o crescimento e reduzir a pobreza através de seu papel de transformação. Reconhecendo sua importância,acredito que os países darão passos para fortalecer o ambiente comercial inclusivo,em meio a um crescente número de medidas protecionistas.

Indo além,diante dos desafios globais,incluindo as prolongadas tensões geopolíticas,reformar a OMC segue uma prioridade essencial. Este encontro do G20 também enfrentará esse desafio crítico,e espero ver o G20 prestar contribuições substanciais para restaurar as funções da OMC.

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