Santo Agostinho. Alunos da 3ª série do ensino médio em aula com o professor Leonardo Nery,de literatura: ano é sobretudo de revisão do conteúdo — Foto: Domingos Peixoto
GERADO EM: 17/11/2024 - 21:56
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Entre 2013 e 2023,o percentual de alunos reprovados no Ensino Médio público caiu mais que pela metade nacionalmente,de 12,7% para 5,7%. Mesmo que ainda insuficiente,é um movimento positivo e significativo para um país que já ostentou indicadores de repetência superiores ao de países da África Subsaariana. A queda aconteceu em todos os estados,com exceção de dois: Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. Esses são dados do Censo Escolar,organizados no Anuário Brasileiro da Educação Básica,divulgado na semana passada pelo movimento Todos Pela Educação,Fundação Santillana e Editora Moderna.
Essa insistência anacrônica na pedagogia da repetência (termo cunhado por Sérgio Costa Ribeiro em artigo de 1991 para denunciar o exagero no uso dessa estratégia comprovadamente ineficaz para a melhoria do desempenho do aluno) é a principal explicação estatística para a rede estadual do Rio de Janeiro ter voltado a ocupar o penúltimo lugar no ranking do Ideb no Ensino Médio,na edição de 2023. No quesito taxa de reprovação nesta etapa,o Rio consegue hoje ser o pior do país,com 14,1%,seguido de Santa Catarina (13,6%) e Rio Grande do Norte (13,5%).
Desse trio,como já explicitado,Rio e Rio Grande do Norte foram as únicas unidades da federação a terem registrado aumento na taxa (de 13,6% a 14,e de 11,9% para 13,5%,respectivamente). Santa Catarina apresentou redução pífia (de 15% para 13,6%),o que também ajuda a explicar os péssimos resultados no Ideb,considerando um estado com nível de riqueza superior à média nacional. Esses três estados também se saem mal em outro indicador que,somado à reprovação,indica a taxa de insucesso na rede pública: o abandono. O Rio Grande do Norte aqui aparece como pior (9,1% de alunos tendo abandonado o Ensino Médio estadual em 2023),enquanto Rio e Santa Catarina continuam com índices superiores à média nacional (5,1% e 5,0%,respectivamente,frente a 3,8% no Brasil).
Apesar de inúmeras evidências na literatura acadêmica em contrário,ainda hoje é comum encontrar quem defenda a repetência como um sinal de rigor acadêmico. Para esse argumento parar em pé,altas taxas de reprovação seriam compensadas por melhores indicadores de aprendizagem. Mas não é o que ocorre. Nem aqui,nem no mundo. É preciso ponderar que nem nossas melhores redes encontram-se em patamar adequado de qualidade,mas algumas registraram avanços mais robustos. As que mais cresceram no indicador de desempenho do Ideb (avaliado por testes de Português e Matemática) entre 2013 e 2023 foram Alagoas,Piauí,Paraná,Pará,Espírito Santo e Goiás. Todas essas,sem exceção,registraram quedas nas taxas de reprovação superiores à média nacional,e aumentos no indicador de aprendizagem de 0,6 ou 0,7 ponto (numa escala de zero a dez).
Santa Catarina,segunda rede estadual com mais reprovação,oscilou apenas 0,1 ponto nesse recorte. O Rio Grande do Norte avançou 0,5,mas tendo saído de um patamar muito baixo. O Rio de Janeiro,de novo,conseguiu ser o pior de todos na variação entre 2013 e 2023: registrou queda de 0,4 ponto. Ou seja,piorou tanto na aprovação,quanto na aprendizagem. A pedagogia da repetência,mais uma vez,se mostrou péssima estratégia.
P.S.: Tanto entre as melhores quanto entre as piores redes,há governos de todos os matizes ideológicos. Sinal de que,ao menos em relação a esses indicadores,não há nenhum padrão observável entre desempenho e filiação partidária.
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