Milei e Macron conversam em primeiro dia da cúpula do G20 — Foto: Pablo PORCIUNCULA / AFP
GERADO EM: 28/11/2024 - 21:10
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Em sua visita ao Brasil para participar da cúpula de chefes de Estado e de governo do G20,o presidente da França,Emmanuel Macron,distribuiu sorrisos,correu na orla da praia de Ipanema,tirou selfies com desconhecidos,gravou vídeos com o prefeito Eduardo Paes,e foi um dos mais efusivos ao abraçar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na chegada ao Museu de Arte Moderna (MAM),sede do encontro.
Foto oficial,Macron 'carioca' e falha no reconhecimento facial: Veja os altos e baixos durante a reunião do G20Com agendas divergentes: Milei e Macron se reúnem na Casa Rosada antes do G20
Nada parecia indicar que,dias depois,Lula e Macron mergulhariam num debate público que levou a relação a níveis inéditos de tensão. Mas essa escalada não surpreendeu funcionários do governo brasileiro que acompanham a relação bilateral de perto. Para muitos desses funcionários,Macron nunca foi nem será amigo do Brasil. Na hora de tomar decisões como apoiar o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE),os interesses internos do presidente francês — às voltas com protestos internos de produtores agropecuários e outras tensões políticas — falam mais alto.
Faz tempo que Macron vem dando sinais de sua oposição a um entendimento que Lula considera importantíssimo para o Brasil e o bloco que integra junto a Argentina,Uruguai e Paraguai. São mais de 20 anos de negociações,e a comissão europeia,que tem mandato dos 27 países da UE para negociar,é favorável ao entendimento,segundo fontes. Macron virou uma pedra no sapato dos interesses do Brasil.
Os sorrisos no Rio ficaram para trás. Para observadores atentos,não há surpresa alguma. Macron avisou,inclusive,durante sua rápida passagem por Buenos Aires,às vésperas da cúpula do G20. “Disse ao presidente argentino que a França não assinará esse tratado com o Mercosul tal como ele está”,afirmou o presidente francês,na capital argentina. Num vídeo que circulou nas redes sociais,Milei disse ter a mesma opinião,mas,na mesa de negociações,a Argentina está apoiando a negociação e quer fechar o entendimento,em sintonia com o Brasil.
Muitos imaginaram que a visita de Macron a Buenos Aires tinha como principal objetivo acalmar Milei antes do encontro no Rio. De fato,o francês,segundo fontes,buscou aproximar o argentino da agenda de consenso do grupo. Mas esse não foi o único objetivo. Com seu mais novo amigo na América do Sul,Macron buscou um aliado na ofensiva contra o acordo entre Mercosul e UE.
Houve tempo,também,para negócios. Nas poucas horas em que Macron esteve em Buenos Aires,foi selado um acordo para que a França venda aos argentinos três submarinos,num valor estimado em US$ 2 bilhões. Na mesma operação,a Marinha argentina comprará quatro buques de patrulha,que,segundo a imprensa argentina,custam em torno de 278 milhões de euros cada.
O acordo vinha sendo negociado há alguns meses,e na visita de Macron,que incluiu um jantar na residência oficial de Olivos,foi batido o martelo. Resta definir um programa de financiamento para que a Argentina,ainda lidando com sérios problemas econômicos,possa pagar. Milei está cumprindo a promessa de reequipar as Forças Armadas do país,como não acontecia desde o retorno da democracia,em 1983. E Macron,também nesse aspecto,se tornou um aliado.
Em Buenos Aires,Macron é visto como um dos principais sócios políticos de Milei na Europa. Quando os assuntos são Defesa e Inteligência,comentaram fontes do governo,a Casa Rosada buscará o apoio dos EUA de Donald Trump,de Israel e,agora,a França de Macron.
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