Paciente espera em frente ao SUS — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
GERADO EM: 29/11/2024 - 21:35
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Como manter a viabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS) para as próximas gerações? Há uma profusão de respostas para essa pergunta. Fala-se,em primeiro lugar,em financiamento: é suficiente? Quais áreas precisariam de mais investimento? Comparado a outros sistemas públicos e universais do mundo,o SUS recebe muito ou pouco dinheiro? Fala-se também em aumento de produtividade,parcerias com a iniciativa privada,modernização da gestão e até em automação e digitalização,tudo com o intuito de reduzir o custo do sistema.
Todas essas questões são importantes,mas há um ponto crucial que parece ficar de fora da discussão. Os custos de um sistema de saúde são proporcionais à quantidade de pacientes que ele atende. Logo,quais doenças estão levando mais gente ao SUS? E seria possível reduzir sua incidência?
Sete em cada dez mortes no país são decorrentes de doenças crônicas não transmissíveis,isto é,geralmente evitáveis. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia,doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil. Em segundo lugar está o câncer. A cada um real gasto pelo SUS,R$ 0,60 são destinados ao tratamento de doenças crônicas. Quase dois terços desse montante vão para o tratamento de hipertensão,diabetes e obesidade,ou de complicações delas decorrentes. Como a obesidade é fator de risco para as outras duas,há estimativas que a apontam como responsável por 41% do total de gastos.
Os números pintam um cenário ainda mais preocupante para o futuro. A população brasileira está envelhecendo. De acordo com o último Censo (2022),mais de 15% da população brasileira é composta por pessoas acima dos 60 anos,um aumento de 56% em relação ao censo anterior (2010). Mantida a tendência,os idosos serão quase 30% da população em 2050 e 37,8% em 2070. Doenças crônicas são mais comuns entre os mais velhos,o que coloca nosso sistema público diante de um colapso anunciado.
Não é possível falar em saúde pública sustentável sem falar,também,em população mais saudável. O debate sobre a viabilidade financeira do SUS deve ter como pressuposto uma estratégia de prevenção de doenças crônicas. É preciso pensar na saúde dos brasileiros antes que precisem de algum remédio,exame,tratamento ou intervenção cirúrgica.
Aqui entra o papel fundamental da educação. Enquanto a agenda de promoção de saúde não estiver não estiver no cotidiano do brasileiro,sobretudo nas escolas,é difícil pensar em mudanças estruturais. Pensemos em um dos exemplos mais bem-sucedidos da nossa história: o antitabagismo. Na década de 1980,um quarto do país fumava. Alguns anos atrás,em 2006,os fumantes eram 16% da população. Agora,segundo um levantamento de 2021,são menos de 10%. Essa redução não ocorreu porque os pais,os médicos,os professores ou as autoridades públicas proibiram os jovens de fumar,mas porque temos duas ou três gerações de brasileiros que cresceram associando o cigarro a algo repugnante e danoso,graças a uma combinação de legislação mais rigorosa com campanhas educativas massivas.
Precisamos de um movimento similar para temáticas como alimentação saudável e sedentarismo,um movimento que envolva campanhas de interesse público,alterações no currículo escolar e reformas legais. Um exemplo positivo é a nova rotulagem de alimentos ultraprocessados,que prevê a impressão de alertas para altas concentrações de sódio,açúcar e gorduras saturadas.
Doenças crônicas evitáveis são o maior dreno financeiro do SUS. A proteção do nosso sistema público requer uma nova abordagem,mais focada na saúde preventiva do que no tratamento. Falemos,sim,dos problemas de financiamento do SUS,que são reais,mas falemos também de estratégias para reduzir o número de pacientes. Um SUS fortalecido e eficiente,com o qual todos sonhamos,precisa ser também economicamente sustentável. A defesa da saúde pública brasileira será um discurso vazio caso não inclua uma agenda de educação para uma vida mais saudável.
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