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Um governo navegado pelo mar

2025-02-11 IDOPRESS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo/04-02-2025

RESUMO

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GERADO EM: 10/02/2025 - 17:49

Desafios do Terceiro Mandato de Lula

O terceiro mandato de Lula mostra sucesso econômico,mas falta conexão com a sociedade e a nova economia. A desaprovação supera a aprovação,complicando a reeleição. Críticas à comunicação e falta de agenda inovadora e poder de articulação são apontadas como problemas. Mudanças no governo são discutidas,enquanto partidos da base criticam e buscam alternativas. O presidente carece de um núcleo capaz de governar de forma ágil e inovadora,apontando e corrigindo erros.

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Num aparente paradoxo,o governo Lula apresenta bons números na economia sem reciprocidade nas curvas de popularidade e intenção de voto. A taxa de desemprego é a menor da história,6,6% (IBGE); a equivalência do salário mínimo em cestas básicas (1,79) é a melhor desde 2020. Preocupante,a inflação de alimentos não supera a aceleração de preços no governo anterior.

O crescimento anual,acima de 3%,é incomparável com a média da última década (0,3%). O resultado fiscal,responsabilidade também dos grupos de pressão,não foi,ao final,a tragédia anunciada. Aos poucos,o dólar volta a patamar razoável. Pela indesmentível trama de um golpe de estado,inelegível,o líder da oposição pode estar entre a fuga e a prisão.

Nada disso atinge percepções e altera expectativas: a desaprovação a Lula (49%) ultrapassa a aprovação (47%). Mês a mês,complicam-se as chances de reeleição — feita,aliás,para reeleger. Sob olhares do centrão,do centro e do empresariado,pressionada,a direita já discute o nome de seu candidato,antes que outro aventureiro ocupe o espaço.

Mudanças:Governo convoca líderes da base para tratar de prioridades em meio a debate sobre reforma ministerial e após recados de Motta

Um diagnóstico simplista e pusilânime reduz esse quadro à incapacidade de comunicação do governo,desnorteado com o poder das redes sociais. Há dois anos,Lula cultiva um modelo de comunicação íntimo e mais afeito ao conflito que à inteligência. A política pune esse tipo de capricho. Igualmente falacioso,é culpar o ministro da Fazenda. Escorregões à parte,é no governo e no PT que Fernando Haddad colhe os maiores conflitos e tem o menor apoio.

A ferida é outra: não há poder de agenda,ideias modernas e inovadoras capazes de despertar esperanças na sociedade. Para além da mesmice de políticas bem-sucedidas no passado,no geral,não há visão de futuro sintonizada com o presente em transformação. A compreensão da realidade e a articulação do governo são lentas,frequentemente atropeladas pelos tratores de um sistema político que se deteriora. Trata-se de um governo navegado pelo mar.

PSD,Republicanos e PP: siglas da base criticam governo e alimentam alternativas para 2026

Evidências? Aviltado pela dinâmica extorsiva das emendas ao Orçamento,o Executivo deposita no Judiciário esperanças de retomar a iniciativa. Observa (estimula?) a ação de Flávio Dino,que,no Supremo,tenta asfixiar o patrimonialismo do centrão. Passageiro da agonia,desculpando-se por,supostamente,estar de mãos atadas,não reordena o jogo — seu papel,por tradição e cultura.

Há meses,uma ampla e profunda reforma ministerial,feita com o Congresso e com a sociedade,já teria estabelecido novo pacto majoritário. Os nomes das presidências do Senado e da Câmara são conhecidos desde novembro,pelo menos. Mas nada foi apresentado até aqui. Em janeiro,esse vazio de agenda gerou espaço para que uma flor do recesso brotasse do esterco da desinformação: os vídeos de Nikolas Ferreira (PL-MG) sobre o Pix enfeitiçaram o país,sangraram o governo e o presidente. “É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar”.

Um balanço sincero conclui que o terceiro mandato de Lula não tem senso de urgência,não articula relações com a sociedade,com a nova economia. Não faz “Política com P de História”. Seus agentes parecem,talvez,paralisados pela crença na infalibilidade do líder. O temor reverencial ao presidente,que expressam,torna-o mais só,fleumático e centralizador. Com menor disposição para operar e decidir.

O presidente não pediu nem quer conselhos em artigos de jornal. Mas é preciso que saiba: o rei está nu. Falta-lhe a cobertura de um núcleo capaz de governar de forma ágil e inovadora,com autonomia para apontar e corrigir erros – os seus,inclusive. Um centro decisório arejado,socialmente amplo e multipartidário; que expresse a frente ampla que Lula está devendo desde antes da eleição. Não há paradoxo algum quando é a falta do sal da política o que torna insossos números,em tese,saborosos.

Carlos Melo,cientista político,é professor senior fellow do Insper

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