O empresário e ciclista Vitor Medrado foi assassinado por assaltantes em frente do Parque do Povo,no Itaim Bibi,em fevereiro; tiros contra Josenildo Moura em janeiro foram registrados por câmera — Foto: Reprodução
GERADO EM: 12/03/2025 - 22:17
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Cenas de crimes violentos,registradas por câmeras de segurança em bairros nobres de São Paulo,dominam as redes sociais dos paulistanos desde janeiro. As gravações,fruto da recente profusão de câmeras nessas regiões,afetam a sensação de segurança dos moradores em um momento no qual os crimes violentos diminuem na capital paulista,embora os furtos batam recorde.
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O último caso foi na segunda-feira: uma mulher sofreu um sequestro-relâmpago ao sair de um pet shop no Morumbi (um dos criminosos foi morto pela Polícia Militar,chamada por uma testemunha,e o outro foi preso).
Mulher é sequestrada em estacionamento de pet shop na Zona Sul de São Paulo
Vídeos captaram ainda a morte do ciclista Vitor Medrado,em fevereiro,do turista Vitor Rocha,em Pinheiros,e do delegado Josenildo Moura,na Chácara Santo Antônio,ambos em janeiro. Há cinco dias,imagens registraram um homem baleado em uma padaria,também em Pinheiros.
Ciclista é morto durante latrocínio em São Paulo
A violência destes episódios assusta,mas os dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) mostram que os crimes violentos registram um recuo histórico na cidade. Os latrocínios (roubos seguidos de morte) estão em queda desde 2001,quando 217 pessoas morreram vítimas desse tipo de crime. No ano passado,foram 52. Em comparação a 2023,houve nove casos a mais,mas a série histórica aponta uma tendência de queda desde 2014,quando o patamar era de 147 casos. Os roubos também caíram desde 2014 e atingiram em 2024 o menor índice desde 2013,com 115.172 casos.
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Na contramão desta tendência,os furtos atingiram o maior número da série histórica disponível em 2023,com 250.825 casos,e o segundo maior índice em 2024,com 241.369. A alta está ligada a um tipo de crime que se tornou comum na cidade: celulares tirados das mãos dos usuários nas ruas.
O pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública,Leonardo Carvalho,afirma que em casos de grande impacto as filmagens são essenciais para a investigação. Mas,na maior parte das vezes,os vídeos apenas disseminam o medo.
— Há um descompasso entre o volume de produção de imagens e a capacidade do Estado usar isso para investigação e prevenção — diz Carvalho,para quem apenas a presença de uma câmera não é mais um fator de dissuasão. — Quem comete crimes já entendeu que as imagens não são amplamente usadas pela polícia investigativa,a não ser quando acontecem casos emblemáticos.
Carvalho também aponta que existe uma desigualdade entre o monitoramento em bairros centrais e na periferia.
— Se pegarmos o caso da morte da jovem Vitória (Sousa,de 17 anos,encontrada degolada em Cajamar),vemos a carência de imagens que poderiam revelar mais sobre a dinâmica do assassinato — compara.
O escritor Daniel Navarro,de 45 anos,morador de Pinheiros,conta que os grupos de WhatsApp da região fervilharam com discussões sobre segurança na semana passada — até mesmo com vídeos de crimes em outros bairros. Um novo grupo surgiu para debater o problema,acrescenta.
— Teve gente falando que não ia mais sair na rua,tem quem foi atrás de uma empresa de segurança privada. A gente faz o que pode,tenta não usar o celular na rua. Quando acontecem casos assim,as pessoas ficam apavoradas,mas ao menos vemos mais polícia no bairro — diz.
Celso Neves Cavallini,presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Portal do Morumbi,considera que os relatos de crimes na região acabam se tornando material para divulgação em redes sociais. Mas não se convertem em um item útil para melhorar a segurança pública: os boletins de ocorrência nas delegacias.
— Aqui os indicadores de sequestro relâmpago são menores que em outros bairros. A turma gosta muito de falar em redes,mas não liga para a polícia,não faz boletins — lamenta Cavallini.
O coronel reformado da Polícia Militar José Vicente afirma que os crimes violentos,que acabam tendo maior repercussão,são a exceção na cidade,e a disseminação em massa das filmagens acaba dando a impressão de que latrocínios ocorrem em maior frequência do que mostram as estatísticas.
— Pesquisas de Mark Warr,professor da Universidade do Texas,mostram que cerca de 20% da sensação de segurança de uma pessoa vem da experiência pessoal e os outros 80% do impacto daquilo que veem nas mídias — diz Vicente.
O sociólogo e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP Alcides dos Reis recorda que os sistemas de monitoramento se estabeleceram no Brasil nos anos 1990,mas se disseminaram após grandes eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016:
— Não adianta a mera disposição desses sistemas. A ideia é que ele esteja associado a uma mudança na forma como as forças policiais conduzem os processos investigativos.
O uso mais eficaz das imagens é uma das premissas do Smart Sampa,programa de câmeras da prefeitura de São Paulo iniciado no ano passado,que conta com 23 mil equipamentos no município. O sistema,segundo a prefeitura,conta com algoritmos que geram alertas para situações como furtos,posse de arma de fogo,tráfico de drogas,descarte irregular de lixo e outras situações. O secretário municipal de Segurança Urbana,Orlando Morando,afirma que representantes de outras forças de segurança têm usado o sistema para investigação.
— A Polícia Civil usa com frequência o Smart Sampa,inclusive no caso da morte do delegado (Josenildo) e do ciclista (Medrado). As câmeras têm todo um sistema por trás. As viaturas estão conectadas via georreferenciamento,assim como as motos e as equipes a pé. Nossas prisões e apreensões estão ocorrendo em menos de dez minutos. Não tenho dúvidas de que,sem o sistema,a cidade estaria mais violenta — defende Morando.
A prefeitura afirma que 2.015 pessoas já foram presas em flagrante com o auxílio do sistema e 826 foragidos foram capturados via reconhecimento facial. “Esse trabalho resultou na queda de 11,35% dos roubos na cidade,em janeiro,comparado ao mesmo mês de 2024”,informou a gestão em nota.
(colaborou Mariana Rosário)
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