O presidente dos EUA,Donald Trump — Foto: Brendan SMIALOWSKI / AFP
Com Donald Trump na Casa Branca,são vãs as tentativas de prever qualquer coisa. É uma incógnita se o pior da guerra comercial deflagrada por ele já passou. Uma semana depois de anunciar o maior choque tarifário na História dos Estados Unidos,Trump se viu forçado a dar meia-volta. Na quarta-feira,suspendeu por 90 dias as tarifas mais altas,mantendo a cobrança mínima de 10% de todos os países,com exceção da China,cuja taxa foi alçada a 145%. A Casa Branca fez grande esforço para vender uma versão segundo a qual tudo corria como previsto,pois o plano era forçar os países a negociar cortes nas próprias tarifas cobradas de produtos americanos. Pura lorota. A convulsão financeira chegou a ponto de lançar os mercados num precipício insondável.
Enquanto perdas trilionárias ficaram restritas às Bolsas de Valores,Trump dobrava a aposta no tarifaço. Mas a manhã de quarta-feira trouxe um temor inédito: o mercado de títulos da dívida do governo americano começou a emitir sinais preocupantes de estresse. Nas crises financeiras do passado,quando os investidores batiam em retirada da Bolsa,acorriam em massa aos bônus emitidos pelo Tesouro americano,considerados porto seguro para o capital,tamanha a confiança planetária no dólar e na solidez da economia americana. Desta vez,foi diferente. Houve venda em massa desses papéis,sinal provável de que Trump despertara a desconfiança em seu próprio país. Se o pânico chegasse ao extremo de ameaçar a supremacia do dólar,a estabilidade de todo o sistema financeiro global estaria em perigo. Diante de tal risco,o recuo foi sensato.
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O mundo respirou,mas seria ingênuo falar em tranquilidade. Trump deflagrou de forma atabalhoada,sem plano aparente,a maior disputa comercial em cem anos,pondo em risco a saúde financeira dos Estados Unidos e do planeta. Como ele ainda tem mais quatro anos de mandato,qualquer vislumbre de estabilidade pode se revelar fugaz.
Por ora,durante três meses,quase todos os países pagarão 10% em tarifas extras,com exceção dos que vendem chips,cobre,produtos farmacêuticos,energia,ouro,madeira e minerais não encontrados nos Estados Unidos. Fabricantes de carros e autopeças,aço e alumínio continuarão pagando 25%. Produtos mexicanos e canadenses fora do tratado de livre-comércio da América do Norte também estarão sujeitos aos 25%. Em resposta,a União Europeia anunciou suspensão de tarifas retaliatórias até julho. O que acontecerá ao fim dos 90 dias? Ninguém sabe.
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A China,principal alvo da guerra comercial,não foi beneficiada pelo recuo. Pelo contrário. Como num jogo de tênis,americanos e chineses têm se retaliado mutuamente desde fevereiro. De lá para cá,a tarifa cobrada pelos americanos subiu para 145% e a cobrada pelos chineses para 84%. Quando as duas maiores potências econômicas estão em guerra comercial,uma recessão mundial parece inevitável.
Ainda que o quadro melhore,parte do estrago demorará a se dissipar. Investimentos e contratos comerciais são firmados quando há confiança e previsibilidade. Trump destruiu ambas — e haverá um preço a pagar. Num cenário otimista,ele aprenderá que a disputa é prejudicial aos Estados Unidos,negociará acordos com os principais parceiros,inclusive a China,posará de vitorioso e — o mais importante — não voltará atrás. O mundo todo deve torcer para tal cenário se tornar realidade.
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