
O presidente dos EUA,Donald Trump,durante entrevista coletiva na Casa Branca — Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP
GERADO EM: 05/12/2025 - 17:47
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‘Fale suavemente e carregue um grande porrete.’ Trump recupera o aforismo empregado por Theodore Roosevelt na década inicial do século XX,mas com um desvio. A parte do “grande porrete” encontra-se à vista de todos,no sul do mar do Caribe,às portas da Venezuela,sob a forma do porta-aviões USS Gerald Ford e seu grupo de combate naval. O “fale suavemente” aplica-se exclusivamente a outros lugares: nas relações de Trump com Vladimir Putin e Xi Jinping.
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A operação de mudança de regime na Venezuela desenrola-se à sombra de um álibi pelicular: a “guerra ao narcoterrorismo”. Destinada a conferir um verniz de legalidade a ações letais contra pretensos narcotraficantes,a fórmula se aplica à ditadura de Maduro,designado pela Casa Branca como chefe de um certo Cartel de los Soles.
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Toda a narrativa dos Estados Unidos é fraudulenta,mesmo no plano factual. Narcotraficantes são criminosos comuns,não combatentes inimigos. Os ataques letais a embarcações acusadas de transportar drogas representam violações escandalosas das leis internacionais. O Cartel de los Soles não existe. A denominação é usada,na Venezuela,para identificar o fluido envolvimento da cúpula das Forças Armadas com diferentes organizações do tráfico de drogas. Maduro comanda um regime criminoso,mas não chefia um cartel.


A ditadura “cívico-militar-policial”,na definição do próprio Maduro,tem coesão e singular estabilidade,mesmo depois de perder o parco apoio popular que lhe restava. Sua argamassa assemelha-se à das máfias. A fidelidade do aparato militar,das forças policiais e das milícias civis repousa sobre um sistema compartilhado de pilhagem das rendas estatais derivadas da exploração de petróleo e ouro e do controle do comércio externo. O regime cleptocrático colabora,ainda,com narcotraficantes nacionais e colombianos.


Trump não entendeu a Venezuela. Imaginou que a combinação do poderoso dispositivo bélico deslocado para o Caribe com ofertas explícitas de anistia ao ditador e a seu círculo mais próximo,além de contatos subterrâneos da CIA com altos oficiais militares,provocaria o resultado almejado. Maduro,contudo,permanece em seu posto. Não rumou por conta própria para Havana ou Moscou,nem foi deposto por um golpe palaciano. A resistência,expressa tanto em comícios desafiadores quanto na radicalização da repressão interna,configura um dilema para os Estados Unidos.
Rússia e China não formam obstáculos. As duas potências obteriam benefícios geopolíticos com a eventual derrubada de Maduro por uma ofensiva total dos Estados Unidos. Putin e Xi interpretariam o evento como sedimentação de uma política mundial de esferas de influência: a troca da Venezuela pela Ucrânia e,mais tarde,por Taiwan. As pedras no caminho de Trump são a opinião pública americana,avessa a uma guerra na América do Sul,e especialmente a própria base ideológica trumpista.
O Maga,movimento trumpista,cuja voz mais nítida é o vice,J.D. Vance,orienta-se por um ultranacionalismo isolacionista que rejeita genericamente envolvimentos militares no exterior. O Big Stick na Venezuela foi idealizado fora da esfera do Maga,pelo secretário de Estado Marco Rubio,republicano oriundo da comunidade cubano-americana de Miami cujo sonho dourado é a deposição dos regimes chavista e castrista. Trump comprou a ideia na expectativa de obter um triunfo consagrador de política externa a preço promocional.
O preço já inflacionou. Inexiste garantia de que ataques pontuais contra alvos em terra precipitem a mudança de regime. A eventual sobrevivência de Maduro instalaria a lógica típica das escaladas militares. No fim do percurso,excluída uma impensável ocupação americana,a Venezuela poderia tornar-se palco de aventuras de grupos armados diversos e um duradouro santuário de cartéis do narcotráfico.
Nesse ponto da curva,porém,um recuo colaria à testa de Trump a imagem do célebre “tigre de papel”,expressão escolhida por Mao Tsé-Tung para,em 1956,caracterizar o “imperialismo americano”. O presidente dos Estados Unidos descobre aos poucos,dolorosamente,que o Big Stick não vive duas vezes.
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