A cantora brasileira Ludmilla em show no festival californiano Coachella,que adotou NFTs no lugar de ingressos — Foto: Reprodução
GERADO EM: 25/06/2024 - 04:00
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Se o velho bilhete de papel para entrar em um show já se tornaram ultrapassados,cresce na indústria do entretenimento uma nova revolução nos ingressos digitais: lastrear as entradas com tokens não fungíveis,os NFTs,para atrair público também com benefícios exclusivos,brindes ou experiências imersivas.
Os NFTs são ativos digitais que usam a tecnologia blockchain — a mesma por trás de criptomoedas como o bitcoin — que garante autenticidade e impede qualquer falsificação. Quem é leigo no assunto pode imaginar os tokens como uma grande sequência de blocos de concreto na internet.
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Qualquer pessoa pode ver onde está cada bloco,representado por um código,e confirmar a sua autenticidade,mas não necessariamente as informações contidas nele.
No caso dos ingressos,a ideia é lastrear cada um com um desses blocos virtuais,que valem determinado valor em dinheiro e podem se valorizar com o tempo,antes ou até depois do evento a que está ligado. É a versão digital daquela pulseirinha ou canhoto que muita gente guardou como lembrança de uma experiência memorável.
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O Coachella,festival de música popular nos EUA,por exemplo,tem anunciado em suas últimas edições o lançamento de uma série de NFTs que servem de ingresso e dão vantagens para os detentores,que vão desde acesso vitalício ao evento,acesso à área VIP e brindes. Na edição deste ano,esses bilhetes especiais custavam a partir de US$ 1 mil.
No Brasil,esses tokens estão se popularizando no esporte. Times de futebol como Flamengo e Palmeiras oferecem fan tokens colecionáveis que,muitas vezes,estão ligados aos programas de sócio-torcedor que buscam maior engajamento da torcida.
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Os benefícios vão desde participar de decisões do clube até lucrar com a venda de atletas. Mas só agora a tecnologia começa a chegar a eventos culturais.
A Sympla,empresa de venda e compra de ingressos on-line,tornou-se recentemente a primeira do gênero a apostar nessa nova tecnologia no país. Roberto Mameli,diretor de Tecnologia da Sympla,diz que o objetivo principal é ter maior controle sobre as transações de ingressos entre os consumidores,principalmente no mercado de revenda,para acabar com as falsificações:
— Atualmente,muitas transações de ingressos ocorrem fora da plataforma Sympla,onde não podemos garantir rastreabilidade e autenticidade. Com blockchain,garantimos um processo de autenticação seguro via token. A titularidade é associada ao endereço da carteira no celular do usuário,gerenciada pela plataforma da Sympla.
Mameli diz que a empresa ainda está testando a tecnologia em eventos menores antes de expandir seu uso,mas prevê que,ao fim do ano,todos os seus ingressos serão tokenizados. Também conta que,por enquanto,a Sympla está cobrindo os custos da tecnologia para os produtores e os consumidores,mas acredita que,os gastos devem diminuir à medida que mais eventos optem por tokenizar seus ingressos.
Para ele,o uso de blockchain trará uma vantagem competitiva para a empresa:
— No mundo do blockchain está emergindo a tendência de tokenizar ativos do mundo real,o que já acontece com itens como roupas de marca,joias e relógios. Agora,queremos aplicar essa tecnologia ao mundo dos ingressos e eventos.
Ele continua:
— Também vamos incluir no futuro certificados de participação de eventos,pontos e outros tipos de ativos.
De fato os concorrentes por aqui ainda não estão pensando nisso. A Eventim informou não estar cogitando tokenizar ingressos. A Ticketmaster Brasil diz que essa alternativa ainda não é atraente no Brasil,mas lá fora,adota os NFTs atrelados à experiência dos consumidores em grandes eventos como o Super Bowl,nos EUA. A Ingresso.com não respondeu ao GLOBO.
O Rock in Rio adotou ingressos digitais na última edição do festival,em 2022,e substituiu as tradicionais pulseirinhas do evento por NFTs,que foram distribuídos como brindes para quem foi. Mas a organização do festival diz que não terá nada nesse sentido para a edição deste ano,O Lollapalooza,destaque do calendário musical de São Paulo,também não.
Rock in Rio terá nova edição neste ano,mas sem NFT — Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Marcos Simplício,professor da Escola Politécnica da USP e especialista em criptografia e cibersegurança,explica que,em termos de segurança dos ingressos,o blockchain não é muito diferente da tecnologia de assinatura digital que já é usada em bilhetes on-line,mas ele ressalta que pode ser vantajoso quando há vinculação com benefícios e outros atrativos para o consumidor.
Leonardo De Marchi,professor da Escola de Comunicação da UFRJ e pesquisador de indústrias culturais e plataformas digitais,explica que a indústria de eventos está cada vez mais interessadas em soluções digitais. Ele diz que produtos e obras de arte em formato de NFT já são usados por artistas underground,e avalia que isso está se expandindo para o mainstream,apesar de,na visão dele,ainda é só o começo:
— Nos últimos tempos,as indústrias culturais resolveram abraçar a tecnologia blockchain. Você não apenas tem produtos,NFTs como obras de arte,mas também essa forma virtual como ingresso e ao mesmo tempo pode produzir uma série de objetos digitais que as pessoas podem manter como uma propriedade delas.
O especialista vê nas possibilidades da tecnologia um potencial de as empresas do setor de entretenimento potencializarem seus ganhos.
— Você está comprando algo exclusivo cujo valor você vê como justo,tem um valor emocional,mas tem uma relação de investidor e produção de ativos. O fã passa a se tornar um investidor do artista,o que pode ser interessante,mas também muda a concepção da obra. Você deixa de ser alguém que ama aquele artista e vira um investidor.
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