Lula e o presidente francês Emmanuel Macron no Palácio do Planalto,Brasília — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
GERADO EM: 18/11/2024 - 21:15
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Seria fácil dizer que a última eleição corrobora a tese de que os Estados Unidos são o único país que passou da barbárie à decadência sem nunca ter conhecido a civilização. Esse aforismo — já atribuído a Wilde,Einstein,Churchill ou Clemenceau — atesta que a maior economia do mundo,modelo de democracia,é objeto de questionamentos há muitas décadas.
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A eleição inquestionável em votos fala por si dos Estados Unidos,mas também do Brasil e da França,países que desejam retomar uma parceria estratégica. Um momento simbólico desse interesse foi a visita do presidente Emmanuel Macron ao Brasil em março,assunto que deve voltar agora no G20 e na COP30.
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Nos Estados Unidos,essa jornada começou em 2021,na invasão do Capitólio. Como resultado,nos últimos anos apostou-se mais na ida do magnata para a prisão que em seu regresso à Casa Branca. E a novela continuou com uma eleição no formato de drama em três atos: o atentado a Donald Trump,a desistência de Joe Biden e o salto de Kamala Harris.
Essa eleição fala de uma América profunda,mais preocupada com seu empobrecimento que com a liderança planetária. Parece também condenar o protagonismo em operações militares internacionais e sinalizar uma tentação isolacionista. Numa sociedade marcada pela “uberização”,expressa a preferência pelo empreendedorismo,em vez do Estado de Bem-Estar Social. E parece refletir ainda receios em relação à imigração e uma rejeição clara ao wokismo.
Além disso tudo,o resultado atesta a onipotência das redes sociais impulsionadas pelos algoritmos do X-Man,ou Elon Musk,para influenciar o destino de uma eleição. Parece,enfim,indicar a consolidação dos mitos americanos do cowboy,do self-made man e do startuper.
No entanto a eleição fala também do estado de outras nações. O Brasil acabou de viver eleições com recados importantes: o fortalecimento de uma centro-direita pragmática,o enfraquecimento da esquerda e a percepção da importância de uma maior reconexão do governo com a classe média,mais sensível ao empoderamento que ao assistencialismo.
Na França,apesar da ausência de vitória absoluta de uma das coligações,as urnas trouxeram um crescimento histórico da extrema direita populista e nacionalista do partido Reunião Nacional,expressando as dificuldades cada vez maiores da social-democracia liberal no relacionamento com as camadas mais populares.
Os governos de Brasil e França têm muitos desafios em comum: como manter uma economia forte beneficiando a todos sem protecionismo? Como defender a luta contra o aquecimento global trazendo as empresas para a solução do problema,e não apenas culpabilizando-as? Como avançar numa agenda de inclusão sem criar silos? Como usar com ética a inteligência artificial? Brasil e França deverão também tratar de buscar protagonismo em suas áreas de influência,respectivamente os emergentes e a União Europeia.
Oportunidades não faltarão. O ano de 2025 marcará o décimo aniversário do Acordo de Paris e os 200 anos de relações diplomáticas entre Brasil e França. Teremos também um dos mais importantes eventos bilaterais dos últimos anos,a Temporada Brasil-França 2025,cujos temas prioritários serão clima e transição ecológica; diversidade; democracia e globalização equitativa.
*Patrick Sabatier é diretor de Relações Corporativas da L’Oréal e presidente da Câmara de Comércio França-Brasil no Rio de Janeiro
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