Quadra do Santa Clara,em Fuerte Apache,onde Thiago Almada começou a jogar — Foto: Davi Ferreira
GERADO EM: 27/11/2024 - 20:10
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Uma quadra de cimento irregular,com tímidos lances de arquibancadas,poderia passar desapercebida por muita gente que vive no ritmo apressado de uma metrópole como Buenos Aires. No humilde bairro Ejército de los Andes,popularmente conhecido por Fuerte Apache,a “cancha” é conhecida por ser um dos pontos de lazer para a garotada local. Para o torcedor do Botafogo,ela está prestes a ganhar contornos históricos: foi ali,quando a quadra ainda era de terra,que deu seus primeiros chutes o pequeno Thiago,que cresceu,ganhou o mundo (literalmente,com o título da Copa de 2022,no Catar) e se tornou Thiago Almada. Destaque alvinegro na Libertadores,o camisa 23 é esperança de dribles,passes e gols para o time carioca derrotar o Atlético-MG no sábado,no Monumental de Núñez,e conquistar a principal competição sul-americana pela primeira vez.
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Apenas 20 quilômetros separam o centro de Buenos Aires de Fuerte Apache,que fica em Ciudadela,província ao lado da capital argentina. Cerca de 60 mil pessoas vivem no local,em prédios altos e casas coladas.
O futebol é uma forma de expressão de Fuerte Apache. O bairro costuma ser estigmatizado pelos altos índices de violência e a atuação do narcotráfico. Caminhando pelas ruas,vê-se pontos com a presença de contêineres de militares que vigiam o local. Alguns entrevistados,mesmo apenas reforçando os relatos sobre Almada,não quiseram se identificar em função do medo. Mesmo assim,as praças costumam ficar cheias ao entardecer,com os moradores em busca de diversão.
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Esteban Daniel,primeiro treinador de Almada — Foto: Davi Ferreira
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Mural em homenagem a Carlos Tévez em Fuerte Apache — Foto: Davi Ferreira
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Quadra do Santa Clara,onde Thiago Almada começou a jogar — Foto: Davi Ferreira
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Fuerte Apache,bairro humilde da periferia de Buenos Aires — Foto: Davi Ferreira
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Casas em Fuerte Apache,bairro periférico na Argentina — Foto: Davi Ferreira
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Murais de Thiago Almada se espalham por Fuerte Apache — Foto: Davi Ferreira
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Vista de Fuerte Apache a partir da quadra do Santa Clara,que revelou o campeão mundial Thiago Almada — Foto: Davi Ferreira
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"Comedor" Thiago Almada,restaurante popular aberto pelo jogador do Botafogo em Buenos Aires — Foto: Davi Ferreira
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Ruas de Fuerte Apache misturam prédios altos e habitações baixas — Foto: Nicole Barrios (@nicolehrmantraut) / Centro de Producción Fuerte Apache
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Club Apache,que revelou Carlos Tévez — Foto: Davi Ferreira
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Praça em Fuerte Apache,onde Thiago Almada nasceu e foi criado — Foto: Davi Ferreira
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Detalhes do "comedor" Thiago Almada,restaurante popular aberto pelo jogador do Botafogo em Buenos Aires — Foto: Davi Ferreira
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Publicidade Assim como Tévez,meia-atacante do Botafogo surgiu nas quadras do local
Os primeiros chutes na bola dados por Thiago,como preferem chamar seus conhecidos mais próximos,aconteceram na mesma região de onde saiu Carlos Tévez,atacante que fez história por Boca Juniors,Corinthians e seleção argentina,e com quem agora Almada divide uma certa idolatria local. Afinal,mesmo campeão do mundo e uma estrela em potencial desde que surgiu no Vélez Sarsfield (de onde foi vendido para o Atlanta United-EUA),ele não para de marcar presença em Fuerte Apache.
— Sempre vem aqui. É um menino muito humilde,está com o povo,cumprimenta os outros meninos. Gosta de andar pelo bairro e,acima de tudo,vem aqui brincar com os seus amigos,faz churrasco com todos. Ele e toda a família são super humildes — revela,em entrevista ao GLOBO,Esteban Daniel,treinador de Almada na infância.
A reportagem percorreu todo o Fuerte Apache para entender a influência de Almada na região,que vem sendo cada vez mais decorada por murais do jogador nas paredes dos prédios e casas,assim como também pelas ações que ele realiza. Recentemente,Almada inaugurou um restaurante popular,conhecido como “comedor”,para distribuir comida gratuitamente aos moradores da região.
"Comedor" Thiago Almada,restaurante popular aberto pelo jogador do Botafogo em Buenos Aires — Foto: Davi Ferreira
O jogador decisivo nos confrontos contra São Paulo (quartas de final) e Peñarol (semifinal),pela Libertadores,começou no futebol há duas décadas,quando tinha 4 anos. Sua primeira casa foi o Santa Clara,clube local do qual Daniel foi treinador e hoje,com 62 anos,é presidente.
— Conheço-o desde os 7 ou 8 anos,quando cheguei no clube,e ele acabou jogando aqui até os 13. Mesmo quando estava na base do Vélez,continuou jogando aqui,foi campeão algumas vezes e se aposentou do “baby fútbol” que a gente fazia — lembra Daniel. — Sempre foi distinto. Quando criança,dava para perceber a diferença técnica que ele tinha em relação aos demais,era o mais diferenciado da categoria dele.
Ruas de Fuerte Apache misturam prédios altos e habitações baixas — Foto: Nicole Barrios (@nicolehrmantraut) / Centro de Producción Fuerte Apache
“Baby fútbol” é uma expressão usada na Argentina para falar do futsal,muito valorizado,segundo o ex-técnico,por apurar os sentidos das crianças,já que é um esporte de pouco espaço,e que ajuda quando elas chegam aos campos. Quando Almada atuou no Santa Clara,a pequena quadra ainda era toda de terra — cenário diferente do atual piso de cimento pintado de azul,vermelho e branco,com pequenos lances de arquibancadas para que curiosos assistam às partidas.
A cultura local é a de acompanhar os campeonatos dos pequenos. Muitas vezes,os treinadores são seus próprios pais. Há outros clubes no bairro,como o El Apache,que fica duas ruas ao lado do Santa Clara e onde Tévez começou sua carreira. Não existe uma rivalidade,e é comum que os moradores até transitem entre eles.
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Muitas vezes,os campeonatos de “baby fútbol” servem para que as equipes de Fuerte Apache recebam adversários de outras partes da Argentina e ajudam a melhorar a imagem do local. Almada faz questão de exaltar o bairro sempre que pode.
— É muito importante o que ele faz,o fato de não esquecer suas raízes,sua origem. Deixa de lado tudo o que conquistou como profissional,quando vem aqui no bairro e tenta ser uma pessoa normal — exalta Tata Maldonado,jornalista que atua na produtora local “DeFuerte Apache”. — Sempre ajuda e está muito presente no bairro,como figura social. Na Argentina,as crianças não querem ser o Homem-Aranha ou o Capitão América... querem ser Carlos Tévez,Thiago Almada,Maradona...
Fuerte Apache,bairro humilde da periferia de Buenos Aires — Foto: Davi Ferreira
Atualmente,o Santa Clara e todo o Fuerte Apache seguem tentando revelar novos talentos que venham de suas ruas. Há jovens que estão nas categorias de base de Boca Juniors,River Plate e outros clubes grandes do país. Também há um projeto para o futebol feminino. Além disso,o clube,que tem mais de 50 anos,conta com outras estruturas para assistência social.
— É uma coisa importante para todos. Ver que,de um clube de um bairro como o nosso,já que muitas vezes somos discriminados socialmente por causa do lugar,um menino sai e se torna campeão mundial. É uma vitrine para as novas gerações,porque veem que existe a possibilidade de serem os melhores — diz Daniel.
Vista de Fuerte Apache a partir da quadra do Santa Clara,que revelou o campeão mundial Thiago Almada — Foto: Davi Ferreira
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