guerra comercial entre China e EUA avança: o presidente chinês,Xi Jinping,à esquerda,e Donald Trump à direita — Foto: Anthony Kwan and Allison ROBBERT / AFP
GERADO EM: 08/04/2025 - 23:15
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A partir de hoje,os produtos chineses importados pelos Estados Unidos estão sujeitos a sobretaxas de 104%. Na segunda-feira,o presidente americano,Donald Trump,anunciou que imporia tarifas extras de 50% depois de Pequim anunciar uma retaliação às taxas anteriormente anunciadas,que somavam 54%. Após a Casa Branca confirmar as novas tarifas ontem,os mercados entraram em trajetória de queda. No Brasil,o dólar comercial chegou a bater R$ 6.
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A China,por sua vez,deixou claro que não recuará. Antes de o governo americano confirmar a taxação de 104%,Pequim já havia avisado que vai “revidar até o fim”. E começou a usar seu arsenal ontem mesmo: o Banco Popular da China afrouxou seus rígidos controles cambiais,e o yuan perdeu fôlego frente ao dólar.
A moeda chinesa era cotada ontem a US$ 0,13625 — ou seja,um dólar era negociado a 7,3394 yuans —,uma mínima histórica. A taxa de câmbio estabelecida pelo BC chinês para a divisa americana ficou em 7,2038 yuans,o menor valor desde setembro de 2023.
Para Reinaldo Le Grazie,ex-diretor do Banco Central e sócio da Panamby Capital,a desvalorização do yuan cria espaço para aumentar a competitividade da China frente às tarifas. E alertou:
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— O yuan desvalorizar é uma força para desvalorizar o real. É natural que uma moeda emergente como a do Brasil,que tem ligação com commodity e depende do investimento direto do estrangeiro geral,se desvalorize. O cenário internacional,de cada um por si,torna difícil,porque o bolo vai ficar menor. Mas o que a China fez,diante da inflação baixa,é perfeito.
Oscilação do Yuan — Foto: Criação O Globo
O diretor-gerente de Mercados Emergentes do banco Wells Fargo,Aroop Chatterjee,disse à Bloomberg que a desvalorização do yuan será “controlada e persistente”.
Representantes do governo chinês afiaram o discurso contra as medidas dos EUA.
— Guerras comerciais e guerras tarifárias não têm vencedores,e o protecionismo não tem saída — disse o ministro das Relações Exteriores da China,Wang Yi.
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O porta-voz da pasta,Lin Jian,reforçou:
— Intimidação,ameaça e chantagem não são a forma correta de lidar com a China.
Por sua vez,um porta-voz do Ministério do Comércio advertiu que a alta das tarifas “expõe a natureza chantagista dos Estados Unidos.”
A nova escalada na guerra comercial afetou os mercados. Ásia e Europa,devido ao fuso horário,fecharam em alta. Nos EUA e no Brasil,o dia também começou otimista. O Ibovespa chegou a subir 1,64%,enquanto o Nasdaq,que concentra papéis de tecnologia,saltou 4%. Mas tudo virou após a confirmação das tarifas.
“Guerras comerciais e guerras tarifárias não têm vencedores,e o protecionismo não tem saída”,diz Wang Yi,ministro das Relações Exteriores da China
O Nasdaq fechou em queda de 2,15%,o Dow Jones caiu 0,84%. O S&P 500,mais amplo,perdeu 1,57% e ficou abaixo dos 5 mil pontos. Desde que Trump anunciou tarifas recíprocas,há uma semana,o S&P acumula perda de 12%.
Em São Paulo,o Ibovespa recuou 1,32%,aos 123.932 pontos. Já o dólar comercial avançou 1,47%,a R$ 5,997,a maior cotação desde 21 de janeiro. Na máxima,a moeda chegou a ser negociada a R$ 6 e,no mês,acumula alta de 5,11%.
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Pesaram aqui a queda das commodities e o peso da China para a economia brasileira,diz André Valério,economista-sênior do Banco Inter. Ele avalia que tanto o país asiático como os EUA serão os mais afetados pela guerra comercial,o que pode ter impacto negativo na moeda brasileira.
A Vale ON caiu 5,48%,a R$ 49,20,devido à queda de 3,15% do minério de ferro. Já as ações preferenciais da Petrobras (PN,sem voto) caíram 3,56%,a R$ 32,com a queda do petróleo. O barril do tipo Brent caiu 2,2%,a US$ 62,82,enquanto o do WTI perdeu 1,9%,a US$ 59,58 — ambos no menor patamar em 4 anos.
Em Washington,a tática foi culpar a China pela escalada da guerra comercial:
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— Foi um erro a China retaliar — afirmou a porta-voz da Casa Branca,Karoline Leavitt. — Quando os Estados Unidos recebem um soco,(o presidente) dá um soco mais forte. É por isso que as tarifas de 104% entrarão em vigor na China hoje (ontem) à meia-noite.
Ao anunciar as tarifas retaliatórias,aplicáveis a mais de 60 países,a Casa Branca informou que a faixa mais baixa,de 10% (na qual está o Brasil) entraria em vigor no último dia 5; as maiores,que vão até 50%,passam a valer hoje. A previsão,segundo o site da CNBC,é recolher tarifas de 86 países.
Mas até no governo há divergências. Elon Musk,dono da Tesla e que ainda assessora Trump,disse ontem que Peter Navarro é “imbecil” e “um completo idiota”. Navarro,um dos principais assessores comerciais da Casa Branca,havia dito à rede CNBC que Musk “não é um fabricante de automóveis”,mas “um montador”,que trabalha com peças importadas da Ásia. O dono da Tesla ressaltou que seus carros são aqueles com maior número de componentes fabricados nos EUA.
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Leavitt,da Casa Branca,minimizou a briga dizendo que “garotos são assim mesmo”.
A União Europeia,enquanto isso,faz um apelo pela negociação. A presidente da Comissão Europeia,o braço executivo da UE,Ursula von der Leyen,em conversa com o premier chinês,Li Qiang,pediu ontem que os países evitem uma escalada nas tensões comerciais. Ela enfatizou a responsabilidade de Europa e China “para apoiar um sistema de comércio reformado,livre,justo e nivelado.”
A Casa Branca,se diz aberta a negociações. Trump disse ontem que mais de 70 países já entraram em contato,entre eles Japão e Coreia do Sul. À noite,em evento do Partido Republicano,Trump teria dito que a China estaria manipulando o câmbio para escapar das tarifas,segundo a Reuters. E indicou que seu próximo alvo em tarifas será o setor farmacêutico.
Em evento em São Paulo,o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar Trump por causa do tarifaço:
— Ninguém briga com quase 200 países. A coisa mais importante hoje é o multilateralismo.
Já o ministro da Fazenda,Fernando Haddad,também em São Paulo,disse considerar o Brasil mais bem posicionado que outros países da América Latina para enfrentar o tarifaço:
— Tem reservas cambiais,um saldo comercial robusto. Não é o caso de nenhum outro país latino-americano,por exemplo. Diante do incêndio,relativamente,nós estamos mais perto da porta.
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