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Trump diz querer taxar filmes produzidos no exterior: ‘Proposta sem nexo', dizem especialistas do setor

2025-05-07 IDOPRESS

Trump completa 100 dias de governo com queda do PIB e de sua popularidade — Foto: Reprodução

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GERADO EM: 07/05/2025 - 03:31

Trump propõe tarifa de 100% em filmes estrangeiros; críticos reagem

Donald Trump propôs uma tarifa de 100% sobre filmes produzidos no exterior,alegando proteger empregos americanos. Especialistas criticam a ideia como "factoide natimorto",sem clareza sobre critérios e impacto em produções internacionais,essenciais para Hollywood. A indústria audiovisual,já afetada por pandemias e greves,enfrenta incertezas,enquanto países discutem regulamentações para proteger suas próprias indústrias culturais.

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Um ancião de cabelo alaranjado encara a câmera de forma marota. Solta uma bomba,que faz uma barulheira infernal. No momento seguinte,desaparece,fora de enquadramento,deixando em cena caos e incerteza. Seria assim,diz reservadamente ao GLOBO uma veterana de Hollywood,a maneira exata de ilustrar como a principal indústria audiovisual do planeta recebeu a notícia,publicada na rede social do presidente dos Estados Unidos no domingo,de que Donald Trump pretende incluir o setor em seu controverso tarifaço global.

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Com a justificativa de proteger os trabalhadores americanos,o republicano avisou que Washington prepara uma taxa de 100% para produções internacionais entrarem no maior mercado global. A International Alliance of Theatrical Stage Employees informa que quase 18 mil postos de emprego desapareceram no setor,já afetado pela pandemia e por greves,apenas nos primeiros três meses deste ano. Ficou para depois apresentar critérios,extensão etc. Incluirá coproduções? Séries? As plataformas de streaming? Efeitos visuais? E qual será a base usada para o novo imposto? Mas o aceno protecionista bastou para arquear sobrancelhas,dentro e fora dos EUA.

— Como a maioria das ações de Trump,neste caso bastante apropriada,pois afeta Hollywood,não está claro o que é sério e o que é fantasia. O audiovisual terceiriza sua produção há décadas,como outras indústrias americanas,para minimizar custos. Centralizar a produção cinematográfica aqui seria bom para os trabalhadores americanos da cultura,mas é fantasioso ignorar a realidade não só da produção,como do próprio consumo cultural contemporâneo: quantos filmes podem ser ambientados em Nova York ou em Los Angeles,quando nossas imaginações e sonhos hoje têm escala global? — questiona o diretor do Centro de Pesquisas de Arte da Universidade de Nova York (NYU),Stephen Duncombe.

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“Se uma cena de ação tem Tom Cruise subindo na Torre Eiffel,o que deveríamos fazer? Filmar na réplica,em Las Vegas? Não faz nenhum sentido”,afirmou o advogado do setor de entretenimento Jonathan Handel à agência de notícias AFP.

— A indústria audiovisual americana vive dos filmes estrangeiros e dos americanos que,por questão orçamentária e facilidade de produção,procuram outras residências para serem realizados. É uma proposta sem nexo,que parece vir de alguém sem conhecimento do que fala — critica Rodrigo Teixeira,produtor de “Ainda estou aqui” e “Me chame pelo seu nome”.

Mal gestada,a medida é,para o diretor e produtor Fernando Meirelles,de “Cidade de Deus” e “Dois Papas”,um “factoide natimorto”:

— Foi uma ideia pensada sem muita reflexão,e creio que as chances de ser implantada desta maneira são remotas. O porta-voz da Casa Branca já deu inclusive aquele duplo twist carpado para driblar a impulsividade do chefe e declarou que “não há decisão final sobre tarifa em filmes produzidos fora,mas estamos explorando caminhos para fazer Hollywood Great Again”.

Trump conta com um trio informal de conselheiros para a área,todos alinhados politicamente à direita — Jon Voight,Sylvester Stallone e Mel Gibson. Em vídeo de dois minutos com a bandeira americana ao fundo,Voight,pai de Angelina Jolie,afirmou na última segunda-feira que o presidente mandara um “recado para a indústria cinematográfica americana”. E afirma ter sido sua a sugestão da tarifa de 100% “para evitar que profissionais continuem morrendo de fome”.

Propriedade intelectual

Em seu anúncio,Trump também foi farto em hipérboles,inclusive ao afirmar que o imposto responde a uma “ameaça à segurança nacional do país”. Mas,para além dos aspectos ufanistas e artísticos,blockbusters e franquias produzidos pelos grandes estúdios são hoje os títulos mais rentáveis da indústria. E só saem do papel justamente por não serem filmados — e muitas vezes nem inteiramente bancados — em solo americano. A bilheteria além-EUA representa cerca de 70% do resultado esperado por cada megafilme,em um mercado anual de US$ 30 bilhões apenas em bilheteria,não incluídos todo o faturamento derivado dos direitos intelectuais de produtos,para ficar em um exemplo óbvio,como a “Barbie”.

O maior sucesso nos cinemas mundo afora este ano,“Um filme Minecraft”,da Warner,foi filmado quase todo na Nova Zelândia e finalizado no Canadá. Amealhou US$ 398 milhões (cerca de R$ 2,2 bilhões) nas cidades americanas e US$ 476 milhões (R$ 2,7 bilhões) no restante do planeta. O próximo tomo da franquia “Missão impossível”,da Paramount,com estreia mundial na semana que vem em Cannes,só fechou seu orçamento,informa a The Hollywood Reporter,com dinheiro britânico. O próximo “Avatar”,da Disney,está sendo parido na Nova Zelândia. O próximo capítulo dos “Vingadores”,da Marvel,acaba de iniciar sua produção em Londres.

Não por acaso,ações dos principais estúdios e plataformas perderam valor após o anúncio. Procurados pelo GLOBO,Disney,Paramount,Sony,Netflix,AppleTV+ e Amazon Prime não comentaram.

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Além da inexistência de detalhes,o silêncio da poderosa Motion Pictiures Association,que reúne os grandes estúdios,sobre o anúncio de Trump está explicado pelo risco de se perder dinheiro. Já o das plataformas também se relaciona ao avanço protecionista fora das fronteiras americanas,onde contam,paradoxalmente,com o apoio de Washington para impedir a regulamentação de seus serviços e a obrigação de produzir conteúdo local,financiando indústrias culturais além-EUA.

Se a futura medida de Trump ainda é nebulosa,o timing é bandeiroso,destaca o realizador audiovisual Rodrigo Pinto,em processo de finalização de seu longa “Ninguém pode provar nada”,a partir da história do maldito Ezequiel Neves. Em fevereiro,lembra,Washington divulgou memorando que textualmente anuncia retaliações a países que adotarem medidas regulatórias sobre serviços digitais de empresas americanas.

Mapa-múndi

A imposição da “taxa de Hollywood” tem potencial real para afetar países que desenvolveram mecanismos próprios de incentivos fiscais para filmagens in loco nas últimas décadas,entre eles Reino Unido,Nova Zelândia e Hungria. Não é o caso do Brasil,como frisa Meirelles:

— A receita de filmes brasileiros nos EUA,quando existe,é pouco significativa,e infelizmente eles não filmam aqui,por não termos esses “tax credits” bem resolvidos.

Por outro lado,assim como boa parte dos europeus,do Canadá e da Austrália,o Brasil discute no momento a regulamentação do streaming para financiar políticas nacionais de fomento à indústria audiovisual local. Em Dinamarca,Espanha e França,as plataformas já pagam taxas de cerca de 5% do total de suas receitas para fundos destinados ao conteúdo local.

— Não sabemos os detalhes da medida de Trump,mas é evidente que temos que proteger nossa indústria,ou seja,regular o streaming e garantir os recursos à produção local. O governo Lula não pode comer mosca em momento estratégico para a indústria do cinema — diz Rodrigo Pinto,produtor independente que defende a taxação de 12% das plataformas no Brasil.

* Colaborou Lucas Salgado

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