O núcleo terrestre interno — Foto: Reprodução/shooogp/Sketchfab
GERADO EM: 12/02/2025 - 08:29
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O núcleo interno da Terra,uma esfera de ferro e níquel com cerca de 2.400 quilômetros de diâmetro,pode não ser perfeitamente sólido. Um novo estudo encontrou evidências de que a fronteira externa do núcleo interno mudou de forma de maneira perceptível ao longo das últimas décadas.
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“A explicação mais provável é que o núcleo externo está puxando o núcleo interno e fazendo com que ele se mova um pouco”,disse John Vidale,professor de ciências da Terra na Universidade do Sul da Califórnia. O Dr. Vidale e seus colegas publicaram suas descobertas na segunda-feira na revista Nature Geoscience.
Essa pesquisa adiciona mais mistérios ao centro do planeta. Geofísicos já haviam relatado que o núcleo interno não gira exatamente na mesma velocidade que o restante da Terra. Também demonstraram que a taxa de rotação muda: há algumas décadas,o núcleo interno parecia girar um pouco mais rápido do que as camadas externas,mas agora está girando um pouco mais devagar.
O núcleo interno é a camada geológica mais profunda da Terra. A crosta — a camada onde vivemos — tem apenas alguns quilômetros de espessura. Abaixo dela,preenchendo 84% do planeta,encontra-se o manto,com 2.900 quilômetros de espessura,que é macio o suficiente em algumas regiões para se movimentar e gerar as forças que impulsionam os continentes. Entre o manto e o núcleo interno está o núcleo externo,que é líquido.
Os cientistas,é claro,não podem cortar a Terra ao meio para observar diretamente seu interior. Em vez disso,seu conhecimento vem da análise das vibrações geradas por terremotos que atravessam o planeta. A velocidade e a direção dessas ondas sísmicas mudam dependendo da densidade e da elasticidade das rochas.
Para este estudo,o Dr. Vidale e seus colegas analisaram terremotos ocorridos nas Ilhas Sandwich do Sul,uma cadeia vulcânica no Oceano Atlântico Sul. Nessa região,ocorrem tantos terremotos que,às vezes,um novo evento é quase idêntico em magnitude e localização a outro ocorrido anos antes.
Os cientistas identificaram mais de 100 desses “pares de terremotos”,analisando registros de 1991 a 2004 em duas redes de sismômetros situadas a mais de 13.000 quilômetros de distância das ilhas: uma perto de Fairbanks,no Alasca,e outra em Yellowknife,no Canadá.
Inicialmente,a análise buscava melhorar estudos anteriores que sugeriam um desaceleramento da rotação do núcleo interno. No entanto,os cientistas notaram que os dados registrados em Yellowknife apresentavam diferenças inesperadas. “Basicamente,os padrões das ondas estavam diferentes”,disse o Dr. Vidale.
Por coincidência,em alguns pares de terremotos,o núcleo interno estava na mesma orientação durante ambos os eventos.
Se as vibrações dos terremotos atravessaram a mesma parte do planeta,os sinais sísmicos registrados em Fairbanks e Yellowknife deveriam ser idênticos. Em Fairbanks,isso aconteceu. Em Yellowknife,no entanto,os sinais eram distintos.
Como Yellowknife está um pouco mais perto das Ilhas Sandwich do Sul do que Fairbanks,as ondas sísmicas registradas ali não penetraram tão profundamente no núcleo interno quanto as captadas em Fairbanks. Isso sugeriu que algo havia mudado próximo à fronteira externa do núcleo interno.
Segundo o Dr. Vidale,fluxos turbulentos no núcleo externo ou a atração gravitacional de partes mais densas do manto poderiam ter deformado a fronteira do núcleo interno,explicando a variação nos sinais sísmicos.
“Esperamos que essa região seja maleável,pois está próxima do ponto de fusão”,disse ele. “Então,não é surpresa se ela se deforma.”
As novas descobertas não serão as últimas sobre o tema. “A interpretação oferecida é válida”,disse Hrvoje Tkalcic,professor de geofísica da Universidade Nacional Australiana,que não participou da pesquisa. “Mas não é a única possível,como os próprios autores reconhecem.”
Nos últimos anos,geofísicos debateram se as variações nos sinais sísmicos são causadas por mudanças na taxa de rotação do núcleo ou por alterações em sua forma. “Este estudo reconcilia o debate ao propor uma combinação de ambos os fatores”,afirmou o Dr. Tkalcic.
Lianxing Wen,professor de geociências da Universidade Stony Brook,em Nova York,que em 2006 já havia sugerido possíveis mudanças na forma da fronteira do núcleo interno,permanece cético quanto à ideia de que o núcleo interno gira em uma velocidade diferente da superfície da Terra.
Para o Dr. Wen,os dados de Yellowknife não corroboram essa hipótese. “Normalmente,inconsistências como essa deveriam levar ao abandono da interpretação original”,disse ele. Ele argumenta que uma mudança de forma,sem qualquer alteração na taxa de rotação,já seria suficiente para explicar os dados sísmicos.
Mesmo o Dr. Vidale não está totalmente certo de sua conclusão. “Temos bastante confiança na nossa interpretação,mas este não é um estudo à prova de falhas”,afirmou. “Quão certos estamos? Eu diria cerca de 90%.”
O Dr. Tkalcic ressaltou que mais dados são necessários para resolver a questão,o que poderia ser feito com a construção de infraestrutura sismológica em áreas remotas do planeta,incluindo o fundo do oceano.
Xiaodong Song,professor da Universidade de Pequim,na China,que na década de 1990 foi um dos primeiros a propor que o núcleo interno girava em uma velocidade diferente da superfície terrestre,concorda.
“Este novo estudo”,disse ele,“deveria motivar uma nova rodada de investigações sobre os fenômenos estranhos que ocorrem no coração do planeta.”
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